terça-feira, 20 de novembro de 2012

Em nome de Deus?

Escrevi há algum tempo este pequeno texto pois acho realmente absurdo. Assusta ver o fanatismo religioso, independente de qual se origine. Porém nossa cultura ocidental é impregnada principalmente pela religião judaico-cristã, e a ela me reporto.
Antes de qualquer coisa, precisamos entender a história contada nestes livros do Antigo Testamento, Êxodo, Levíticos, Números, Deuteronômio e Josué. Moisés, após a fuga do Egito, sobe ao monte Sinai para encontrar com Deus, que lhe dará os mandamentos e os procedimentos para a liderança do povo Judeu. Porém Moisés demora e o povo fica impaciente e ansioso por sua volta: Êxodo, 32:1-7: “Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu. E Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro, que estão nas orelhas de vossas mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas, e trazei-mos. Então todo o povo arrancou os pendentes de ouro, que estavam nas suas orelhas, e os trouxeram a Arão. E ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o ouro com um buril, e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Este é teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito. E Arão, vendo isto, edificou um altar diante dele; e apregoou Arão, e disse: Amanhã será festa ao SENHOR. E no dia seguinte madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se a comer e a beber; depois levantou-se a folgar. Então disse o SENHOR a Moisés: Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste subir do Egito, se tem corrompido.”
Grifei uma parte que achei extremamente interessante: trouxeram ofertas pacíficas, e o povo assentou-se a comer e beber, algo extremamente sadio, se feito em paz. Em seguida, Deus fica irado por terem construído um bezerro de ouro e ordena Moisés a descer, para que seu furor se ascendesse contra o povo. Moisés, a princípio, não compreende, e intercede pelo povo a Deus, mas não tem jeito. O estranho é que se o Deus judeu é todo poderoso, onipotente e onisciente, por que se enfurecer diante de uma simples estátua de um bezerro? Não seria mais humano e bondoso, diante de um um pecado sem intenção, pois o povo estava em paz, educar e ensinar ao povo que adorar uma estátua não era bom? Mas, enfim, continuemos: Êxodo, 32: 7-31: “E depressa se tem desviado do caminho que eu lhe tinha ordenado; eles fizeram para si um bezerro de fundição, e perante ele se inclinaram, e ofereceram-lhe sacrifícios, e disseram: Este é o teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito. Disse mais o SENHOR a Moisés: Tenho visto a este povo, e eis que é povo de dura cerviz. Agora, pois, deixa-me, para que o meu furor se acenda contra ele, e o consuma; e eu farei de ti uma grande nação. Moisés, porém, suplicou ao SENHOR seu Deus e disse: O SENHOR, por que se acende o teu furor contra o teu povo, que tiraste da terra do Egito com grande força e com forte mão? Por que hão de falar os egípcios, dizendo: Para mal os tirou, para matá-los nos montes, e para destruí-los da face da terra? Torna-te do furor da tua ira, e arrepende-te deste mal contra o teu povo. Lembra-te de Abraão, de Isaque, e de Israel, os teus servos, aos quais por ti mesmo tens jurado, e lhes disseste: Multiplicarei a vossa descendência como as estrelas dos céus, e darei à vossa descendência toda esta terra, de que tenho falado, para que a possuam por herança eternamente. Então o SENHOR arrependeu-se do mal que dissera que havia de fazer ao seu povo. E virou-se Moisés e desceu do monte com as duas tábuas do testemunho na mão, tábuas escritas de ambos os lados; de um e de outro lado estavam escritas. E aquelas tábuas eram obra de Deus; também a escritura era a mesma escritura de Deus, esculpida nas tábuas. E, ouvindo Josué a voz do povo que jubilava, disse a Moisés: Alarido de guerra há no arraial. Porém ele respondeu: Não é alarido dos vitoriosos, nem alarido dos vencidos, mas o alarido dos que cantam, eu ouço. E aconteceu que, chegando Moisés ao arraial, e vendo o bezerro e as danças, acendeu-se-lhe o furor, e arremessou as tábuas das suas mãos, e quebrou-as ao pé do monte; E tomou o bezerro que tinham feito, e queimou-o no fogo, moendo-o até que se tornou em pó; e o espargiu sobre as águas, e deu-o a beber aos filhos de Israel. E Moisés perguntou a Arão: Que te tem feito este povo, que sobre ele trouxeste tamanho pecado? Então respondeu Arão: Não se acenda a ira do meu senhor; tu sabes que este povo é inclinado ao mal; E eles me disseram: Faze-nos um deus que vá adiante de nós; porque não sabemos o que sucedeu a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito. Então eu lhes disse: Quem tem ouro, arranque-o; e deram-mo, e lancei-o no fogo, e saiu este bezerro. E, vendo Moisés que o povo estava despido, porque Arão o havia deixado despir-se para vergonha entre os seus inimigos, Pôs-se em pé Moisés na porta do arraial e disse: Quem é do SENHOR, venha a mim. Então se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi. E disse-lhes: Assim diz o SENHOR Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho. E os filhos de Levi fizeram conforme à palavra de Moisés; e caíram do povo aquele dia uns três mil homens. Porquanto Moisés tinha dito: Consagrai hoje as vossas mãos ao SENHOR; porquanto cada um será contra o seu filho e contra o seu irmão; e isto, para que ele vos conceda hoje uma bênção. E aconteceu que no dia seguinte Moisés disse ao povo: Vós cometestes grande pecado. Agora, porém, subirei ao SENHOR; porventura farei propiciação por vosso pecado. Assim tornou-se Moisés ao SENHOR, e disse: Ora, este povo cometeu grande pecado fazendo para si deuses de ouro.”
Gente, prestem a atenção: mataram uns três mil homens! Os homens estavam em paz, Moisés aparece a mando de Deus, Arão, quem constrói a estátua, fala que o povo, povo este escolhido pelo próprio Deus para deixar a escravidão no Egito, é inclinado ao mal, então irmão mata irmão, amigo mata o outro, e vizinhos se matam por causa de uma estátua de um bezerro. E Deus concederá uma bênção por isso! É realmente inacreditável. Ocorre, além disso, um contrassenso: Moisés, em cima do monte, já sabia o que estava ocorrendo e acalma Deus da Sua ira; por que se indigna tanto ao descer do monte, ele próprio se enfurecendo? Ou será que jogar as tábuas no chão, destruir o bezerro, e ordenar matar três mil é um sintoma de calma?
Um pouco mais adiante, Deus, cara a cara com Moisés, diz: Êxodo, 34:10 – 16: “Então disse: Eis que eu faço uma aliança; farei diante de todo o teu povo maravilhas que nunca foram feitas em toda a terra, nem em nação alguma; de maneira que todo este povo, em cujo meio tu estás, veja a obra do SENHOR; porque coisa terrível é o que faço contigo. Guarda o que eu te ordeno hoje; eis que eu lançarei fora diante de ti os amorreus, e os cananeus, e os heteus, e os perizeus, e os heveus e os jebuseus. Guarda-te de fazeres aliança com os moradores da terra aonde hás de entrar; para que não seja por laço no meio de ti. Mas os seus altares derrubareis, e as suas estátuas quebrareis, e os seus bosques cortareis. Porque não te inclinarás diante de outro deus; pois o nome do SENHOR é Zeloso; é um Deus zeloso. Para que não faças aliança com os moradores da terra, e quando eles se prostituirem após os seus deuses, ou sacrificarem aos seus deuses, tu, como convidado deles, comas também dos seus sacrifícios, E tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, e suas filhas, prostituindo-se com os seus deuses, façam que também teus filhos se prostituam com os seus deuses.” Isso realmente não pode ser verdade! Deus ordena que as filhas e filhos dos povos subjugados sejam “escravos” dos judeus! ELE diz que destruirá todos os povos que simplesmente adorarem outro Deus, que tamanha perversidade! E ainda diz mais: Êxodo, 34:24: “Porque eu lançarei fora as nações de diante de ti, e alargarei o teu território; ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para aparecer três vezes no ano diante do SENHOR teu Deus.” Estas são as “maravilhas” que Deus fará!É um Deus perverso e imperialista, que não permite a união dos povos apesar das suas diferenças, seu intuito é destruir e ganhar territórios.
A partir do livro Êxodo, e entrando em Levíticos, Deus ordena a construção do Arraial, e dos procedimentos dos sacrifícios, tudo banhado a ouro, prata e cobre, com os mais viçosos tecidos e ornamentos, e uma infinidade de sacrifícios animais. É uma matança sem fim de animais para o holocausto. Depois trata sobre os animais que não se deve comer, e as imundícias das mulheres e dos homens, enfim os “estatutos e as leis e os juízos”. Uma questão extremamente intrigante é o número de regras e seus detalhes a serem seguidos. São tantos, mas tantos, que é quase impossível um homem comum se lembrar e seguir fielmente todos os procedimentos, e o não cumprimento tinha como resultado pecados e castigos dos mais terríveis. Parece que Deus fez de sacanagem. O que é estranho é o fato do povo judeu ser o “escolhido” dele, subentende-se que por serem escolhidos já agiam de forma correta e honesta aos olhos de Deus, que por isso o escolheu, mas não..., pelo que tudo indica na Bíblia eles só agiam de forma errada, e Deus lhe impôs milhares de regras para corrigir-lhes a conduta.
Então começa realmente a barbárie em Números. Até aqui, todo o absurdo foi um passeio no parque. Juntaram as doze tribos de Israel, e ordenaram que enviassem todos os homens acima de vinte anos para comporem um exército. Reuniram ao todo 603.550 homens, conforme a tabela:
tribo de Rubem 46.500
tribo de Simeão 59.300
tribo de Gade 45.650
tribo de Judá 74.600
tribo de Issacar 54.400
tribo de Zebulom 57.400
tribo de Efraim 40.500
tribo de Manassés 32.200
tribo de Benjamim 35.400
tribo de Dã 62.700
tribo de Asser 41.500
tribo de Naftali 53.400
Após regras inúmeras, mais ofertas a Deus, outras confabulações e disse-me-disses, foram ver os locais onde haviam povos a serem dominados. Eram locais prósperos, ricos e bem estruturados, porém não adoravam o Deus dos Israelitas, e isso bastava para a dizimação.
Outro detalhe importantíssimo a ser mencionado para termos de comparação é o efetivo do exército. Segundo dados do Almanaque Abril 2011, o Brasil tem um exército de 190.000 soldados; os EUA, 662.200; a França, 134.000; e Israel atualmente, 133.000. Podemos concluir que os judeus da antiguidade foram as pessoas mais brigonas que já pisaram na terra.
Números é um livro interessante, indico a todos lerem, pois vemos absurdos e crueldades que não combinam com o que entendo, e creio que a maioria também, entende por DEUS. Em uma das passagens nos deparamos com isto: Números, 15: 32-36: “Estando, pois, os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando lenha no dia de sábado. E os que o acharam apanhando lenha o trouxeram a Moisés e a Arão, e a toda a congregação. E o puseram em guarda; porquanto ainda não estava declarado o que se lhe devia fazer. Disse, pois, o SENHOR a Moisés: Certamente morrerá aquele homem; toda a congregação o apedrejará fora do arraial. Então toda a congregação o tirou para fora do arraial, e o apedrejaram, e morreu, como o SENHOR ordenara a Moisés.” Imaginemos a cena: o homem, um pai de família, agricultor ou caçador, sai de sua humilde casa em um dia de sábado para pegar lenha para sua esposa preparar os alimentos e aquecê-los da fria madrugada do deserto. No meio da sua tarefa aparece uma turba louca, o agarra e o leva para o arraial judeu. A princípio não sabem bem o que fazer com o homem, então alguém vai a uma tenda riquíssima, toda ornamentada, chamar Moisés. Voltam os dois até o pobre homem, cercado por fanáticos, e Moisés diz que Deus ordenou que levassem o homem pra fora e o apedrejassem até a morte! O homem simplesmente morre apedrejado por apanhar lenha ao sábado!!!!! Por ordem de Deus!!!!!????
O povo de Israel, em busca da terra prometida chega à cidade de Arade, e “os israelitas destruíram totalmente”. Essa destruição torna-se comum, e vem após uma artimanha: eles pedem pra passar pela cidade, jurando que nada vão fazer, o rei da cidade não deixa – obviamente desconfiado pelas notícias que vinham daqueles loucos – e os israelitas destroem tudo: Números, 21:21-25: “Então Israel mandou mensageiros a Siom, rei dos amorreus, dizendo: Deixa-me passar pela tua terra; não nos desviaremos pelos campos nem pelas vinhas; as águas dos poços não beberemos; iremos pela estrada real até que passemos os teus termos. Porém Siom não deixou passar a Israel pelos seus termos; antes Siom congregou todo o seu povo, e saiu ao encontro de Israel no deserto, e veio a Jaza, e pelejou contra Israel. Mas Israel o feriu ao fio da espada, e tomou a sua terra em possessão, desde Arnom até Jaboque, até aos filhos de Amom; porquanto o termo dos filhos de Amom era forte. Assim Israel tomou todas as cidades; e habitou em todas elas, em Hesbom e em todas as suas aldeias.” E então começa o empreendimento de conquista territorial. Primeiro, a região dos amorreus; depois, Jazer; depois, Basã, onde “nenhum deles escapou”. Um pouco mais adiante, vemos o intuito real do povo de israel em um diálogo entre Balaão e Balaque: Números, 24:8: “Deus o tirou do Egito; as suas forças são como as do boi selvagem; consumirá as nações, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e com as suas setas os atravessará.”
Antes de prosseguirmos na assombrosa narrativa de dominação, acho importante um comentário. Todas as vezes que o povo de israel parava em alguma localidade, eles praguejavam, pecavam, se prostituiam, e Deus tinha que mandar pragas e matar um monte de gente para que sossegassem. Mas raciocinemos: se Deus criou tudo, por que Ele escolheu logo este povo para a sua preferência em detrimento dos outros? Lendo a Bíblia só podemos concluir que Deus se enganava o tempo todo e não tinha o mínimo de discernimento e juízo sobre Sua criação.
Voltemos à guerra. Juntaram 12.000 para atacar os midianitas, mataram todos os homens e levaram para o acampamento as mulheres, os animais, e os bens dos vencidos: Números, 31:9: “Porém, os filhos de Israel levaram presas as mulheres dos midianitas e as suas crianças; também levaram todos os seus animais e todo o seu gado, e todos os seus bens.” E vejam agora que pessoa bondosa era Moisés: Números, 31:11-18: “E tomaram todo o despojo e toda a presa de homens e de animais. E trouxeram a Moisés e a Eleazar, o sacerdote, e à congregação dos filhos de Israel, os cativos, e a presa, e o despojo, para o arraial, nas campinas de Moabe, que estão junto ao Jordão, na altura de Jericó. Porém Moisés e Eleazar, o sacerdote, e todos os príncipes da congregação, saíram a recebê-los fora do arraial. E indignou-se Moisés grandemente contra os oficiais do exército, capitães dos milhares e capitães das centenas, que vinham do serviço da guerra. E Moisés disse-lhes: Deixastes viver todas as mulheres? Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, deram ocasião aos filhos de Israel de transgredir contra o SENHOR no caso de Peor; por isso houve aquela praga entre a congregação do SENHOR. Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele. Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós.” É isso mesmo que está escrito, pasmem! Moisés manda matar as crianças do sexo masculino, as idosas, todos com exceção das meninas virgens para poder servi-los!
Após esta passagem, inicia a narrativa das regras de partilha dos despojos, e podemos perceber quão rica era a terra dos midianitas que esses loucos devastaram. A regra da partilha era a seguinte: de todos os despojos, uma metade iria para a congregação e a outra para os soldados. Da parte dos soldados seria retirado a parte de Deus(???). O total foi: 675.000 ovelhas, 72.000 bois, 61.000 jumentos e 32.000 meninas virgens. Sobrou para Deus(???) 675 ovelhas, 72 bois, 61 jumentos e 32 meninas virgens. Eu gostaria realmente de saber o que Deus faria ou fez com os despojos. Além disso, e é importante citar, ainda há as jóias e 16.750 siclos de ouro. Siclo era uma antiga unidade de peso (Shekel em hebraico) que correspondia a aproximadamente 11 gramas, portanto a parte de Deus nos despojos de guerra foi de 184,25 kg de ouro. Se a parte de Deus é a milésima parte do total, como podemos constatar, significa que o saque total ao ouro dos midianitas foi de 184.250 kg. Nada mal para povoado algum. Na cotação atual significa só em ouro o valor de R$ 12.025.960,65!
Após o massacre dos midianitas, os filhos de Rúbem e os filhos de Gade vão até Moisés pedir para que fiquem nestas terras, já que tinham gado e riquezas suficientes para bem viverem, e não queriam continuar avançando e passar o Jordão. Então a ira do SENHOR se acendeu no mesmo dia, e esses desertores vagaram quarenta anos no deserto para consumir toda aquela geração. Números, 32:13: “Assim se acendeu a ira do SENHOR contra Israel, e fê-los andar errantes pelo deserto quarenta anos até que se consumiu toda aquela geração, que fizera mal aos olhos do SENHOR.” Então resolveram que fariam cidades para as mulheres e crianças, e continuariam a guerrear em nome do SENHOR. Tomaram mais duas cidades, pra não perderem o costume, e continuaram a barbárie. Passaram por diversos acampamentos e nas campinas de Moabe, junto ao Jordão, na direção de Jericó, disse o SENHOR: Números, 33:52: “Lançareis fora todos os moradores da terra de diante de vós, e destruireis todas as suas pinturas; também destruireis todas as suas imagens de fundição, e desfareis todos os seus altos;” E se não fizerem... Números, 33:55-56: “Mas se não lançardes fora os moradores da terra de diante de vós, então os que deixardes ficar vos serão por espinhos nos vossos olhos, e por aguilhões nas vossas virilhas, e apertar-vos-ão na terra em que habitardes. E será que farei a vós como pensei fazer-lhes a eles.” O negócio era massacrar e aniquilar completamente. Vemos em obras como A Arte da Guerra de Sun Tzu, ou O Príncipe de Maquiavel os procedimentos para com os povos vencidos, a prudência no tratamento para com eles e seus soldados, formas para estes se tornarem leais e úteis aos conquistadores, mas o Deus judeu que tudo sabe, desconhece esta sabedoria. A sabedoria para ELE é aniquilar completamente o inimigo.
Passagem muito interessante para quem se dispuser a ler é o capítulo 35 de Números. Nele, Deus começa a partilha das cidades a serem invadidas antes de atravessarem o Jordão. São 48 cidades para os levitas e seis cidades de refúgio. Cidades de refugio serão aquelas para onde irão os homicidas a serem julgados, e Deus estabelece as leis que devem ser seguidas. Obviamente os homicidas dolosos são condenados à morte. Mas o que mais me intriga é: não são todos eles homicidas em nome do próprio Deus? Ao fim de números, presenciamos uma explicação sobre as regras da partilha das heranças das terras a serem conquistadas, que estas não devem sair de suas próprias tribos, e entramos em Deuteronômio, ainda esperando a invasão ao outro lado do Jordão.
Deuteronômio começa com batedores indo ao vale do Escol para verem as terras a serem conquistadas. Mais uma vez os judeus se consideram incapazes de conquistar cidades tão grandes e fortificadas – mesmo com um exército daquele tamanho – e mais uma vez acende a ira de Deus, que diz que após tanto caminharem continuam sem acreditar..., aquela mesma conversa. Só que desta vez Deus fala a Moisés para preparar Josué para a liderança, pois ele irá morrer antes de conquistarem todas as terras. Deus, irado mais uma vez com a descrença, permite que os amorreus derrotem os judeus de Seir até Horma.
Deus, que não é nada bobo, e é muito rico, fala para Moisés contornar o caminho até a terra prometida, mas não se meter com os filhos de Esaú, pois é de lá que sairá a comida que Ele comprará para o Seu povo. Não entraram em guerra também com os habitantes de Moabe, pois eles eram grandes e fortes, e Deus já tinha prometido a terra a outros. Passaram por Ar, terra dos filhos de Amom, estes também eram grandes e fortes, não mexeram com eles.
Em Hesbom a coisa começa a ficar interessante. Deus fala que vai colocar o medo a Moisés na mente do povo para que se angustiassem. Então foram mensageiros a Siom, rei de Hesbom, com mensagens de paz, pedindo-lhe que deixassem os judeus passarem pela cidade, e que comprariam comida e água dele. Diante da recusa de Siom, Deus acha a brecha para o implacável ataque. E o resultado? É difícil imaginar? Deuteronômio, 2:33-36: “E o SENHOR nosso Deus no-lo entregou, e o ferimos a ele, e a seus filhos, e a todo o seu povo. E naquele tempo tomamos todas as suas cidades, e cada uma destruímos com os seus homens, mulheres e crianças; não deixamos a ninguém. Somente tomamos por presa o gado para nós, e o despojo das cidades que tínhamos tomado. Desde Aroer, que está à margem do ribeiro de Arnom, e a cidade que está junto ao ribeiro, até Gileade, nenhuma cidade houve que de nós escapasse; tudo isto o SENHOR nosso Deus nos entregou.”. Atenção para esta parte, pois desta vez, nem as meninas virgens foram poupadas. Logo em seguida foram a caminho de Basã. Acham que o resultado foi diferente? Deuteronômio, 3:1-7: “Depois nos viramos e subimos o caminho de Basã; e Ogue, rei de Basã, nos saiu ao encontro, ele e todo o seu povo, à peleja em Edrei. Então o SENHOR me disse: Não o temas, porque a ele e a todo o seu povo, e a sua terra, tenho dado na tua mão; e far-lhe-ás como fizeste a Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom. E também o SENHOR nosso Deus nos deu na nossa mão a Ogue, rei de Basã, e a todo o seu povo; de maneira que o ferimos até que não lhe ficou sobrevivente algum. E naquele tempo tomamos todas as suas cidades; nenhuma cidade houve que lhes não tomássemos; sessenta cidades, toda a região de Argobe, o reino de Ogue em Basã. Todas estas cidades eram fortificadas com altos muros, portas e ferrolhos; e muitas outras cidades sem muros. E destruímo-las como fizemos a Siom, rei de Hesbom, destruindo todas as cidades, homens, mulheres e crianças. Porém todo o gado, e o despojo das cidades, tomamos para nós por presa.” Após todo este morticínio, começa a partilha dos despojos.
Em um raro momento de paz, Moisés pede a Deus que olhe para outras terra – o Líbano inclusive – e Deus se indigna – não sei por que – e manda Moisés se calar. Logo após, diz pra Moisés olhar pra todos os lados com atenção, pois ele não irá ver mais nada, e preparar Josué para assumir a liderança. Bela maneira de anunciar a morte! Imaginemos o diálogo: - Deus, daquele lado de lá deve ter terras muito boas, hein? O Senhor não acha que a gente podia invadir, matar todo mundo, roubar tudo pra gente?! E Deus reponde: - Ih! Moisés...é uma boa, sim... mas faz o seguinte: presta bem a atenção, olhe bastante, e chama lá o Josué, porque você não vai chegar até lá não! Moisés então lembra toda a trajetória desde o Egito, relembra todas as leis, várias e várias vezes, amaldiçoa e pragueja contra todos os não-judeus, amaldiçoa os judeus que descumprirem as regras, bendiz os que cumprirem... isso pelos trinta capítulos restantes do Deuteronômio, e por fim morre.
Inicia Josué, a liderança e o livro. E logo de cara ele manda dois espiões para ver Jericó. Os espiões, antes de mais nada, foram à casa de uma prostituta, Raabe, e lá dormiram..., mas a serviço secreto de Josué. O rei de Jericó ficou sabendo, e foi tirar satisfação na casa da prostituta. Lá chegando, Raabe escondeu os espiões e falou ao rei que eles já haviam ido embora. O rei acreditou e foi embora com seus soldados. A prostituta, vendo que as coisas estavam sem perigo, diz aos espiões que já sabia das façanhas bélicas dos judeus, e seu Deus guerreiro, e pede que após a invasão, que ela já dava como certa, poupassem a sua vida e a de seus pais em gratidão àquele ato. Belo negócio, visto que em todos os outros lugares os judeus mataram todo mundo. E combinaram que a hora da iminente invasão ela se fechasse em casa com sua família e pusesse um cordão vermelho na janela em que eles escapariam para que ninguém atacasse aquela casa.
Os espiões voltaram e contaram toda a história a Josué. Falaram também que todo o povo de Jericó temia o exército do SENHOR, também, não era para menos, visto o que eles faziam por onde passavam. Josué começa os preparativos para a invasão, com todos aqueles cerimoniais, manda circuncisar todos os que ainda não o haviam sido, Deus novamente abre as águas para o exército passar, agora as águas do Jordão. Ouvindo falar que novamente Deus deu “uma mãozinha” ao exército..., Josué,5:1: “E sucedeu que, ouvindo todos os reis dos amorreus, que habitavam deste lado do Jordão, ao ocidente, e todos os reis dos cananeus, que estavam ao pé do mar, que o SENHOR tinha secado as águas do Jordão, de diante dos filhos de Israel, até que passassem, desfaleceu-se-lhes o coração, e não houve mais ânimo neles, por causa dos filhos de Israel.” Enfim, chegaram às muralhas de Jericó.
Apareceu um anjo e ordenou a marcha em volta das muralhas, com o toque das trombetas e tudo o mais. Eles assim fizeram, as muralhas caíram e 40.000 soldados invadiram a pobre Jericó. No meio da confusão, Josué mandou os espiões salvarem a prostituta e sua família, conforme prometido, e todo o resto...Josué, 6:21: “ E tudo quanto havia na cidade destruíram totalmente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde o menino até ao velho, e até ao boi e gado miúdo, e ao jumento.” Desta vez nem o gado eles livraram, pois o intuito era outro. Acho que o setor pecuário judeu já estava em superávit, porém o setor de metais não: Josué, 6:24: “Porém a cidade e tudo quanto havia nela queimaram a fogo; tão somente a prata, e o ouro, e os vasos de metal e de ferro, deram para o tesouro da casa do SENHOR.”
O que realmente me intriga, e na Bíblia não há uma palavra sobre isso, é o que fizeram de tão errado cidades tão prósperas para ter fim tão cruel. Não é uma guerra comum. Uma contenda entre exércitos, e o vencedor saqueava os vencidos, como ocorreram inúmeras vezes na história da humanidade. Era um massacre completo! Em uma passagem posterior na Bíblia, é contada a história de Sodoma e Gomorra, que foram aniquiladas instantaneamente pelo “fogo” do SENHOR. Acho que tiveram um fim menos doloroso que todas essas cidades massacradas por soldados, pelos fios de suas espadas. Por que Deus permitiu, e ordenou tão terrível sorte a outros filhos DELE também? Pela forma como é contada, mais parece atos de um ser extremamente bélico e diabólico, no sentido mais sombrio da palavra.
Após a aniquilação de Jericó, ocorre um fato curioso logo no início do capítulo 7: Josué, 7:1: “E transgrediram os filhos de Israel no anátema; porque Acã filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zerá, da tribo de Judá, tomou do anátema, e a ira do SENHOR se acendeu contra os filhos de Israel.” Acã tomou do anátema e Deus fica irado com todo mundo, não é de se estranhar, depois de tanta matança qualquer coisa é motivo de ira. Anátema, no sentido arcaico, era uma oferta a Deus cujo objetivo era o agradecimento por uma vitória ou favorecimento. Para o cristianismo, é o mais severo caso de excomunhão, ocorrendo apenas nos casos mais horríveis de heresia contra a fé. No caso em questão, Acã roubou prata e ouro que era o espólio de Deus, o que o irritou tanto. Josué, talvez ainda sem saber deste caso, manda alguns homens de Jericó – que não mais existe – a Ai, para sondar sobre a invasão desta localidade. Os homens voltaram, e falaram que era um lugar muito pequeno, que não precisaria de mais de 3.000 homens para dar conta do serviço. Foram lá então este número de homens, porém se deram mal, pois os soldados de Ai os colocaram pra fugir e feriram 36 judeus. Vejam o resultado desta passagem: Josué, 7:5-12: “E os homens de Ai feriram deles uns trinta e seis, e os perseguiram desde a porta até Sebarim, e os feriram na descida; e o coração do povo se derreteu e se tornou como água. Então Josué rasgou as suas vestes, e se prostrou em terra sobre o seu rosto perante a arca do SENHOR até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e deitaram pó sobre as suas cabeças. E disse Josué: Ah! Senhor Deus! Por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão, para nos entregares nas mãos dos amorreus para nos fazerem perecer? Antes nos tivéssemos contentado em ficar além do Jordão! Ah, SENHOR! Que direi? Pois Israel virou as costas diante dos inimigos! Ouvindo isto, os cananeus, e todos os moradores da terra, nos cercarão e desarraigarão o nosso nome da terra; e então que farás ao teu grande nome? Então disse o SENHOR a Josué: Levanta-te; por que estás prostrado assim sobre o teu rosto? Israel pecou, e transgrediram a minha aliança que lhes tinha ordenado, e tomaram do anátema, e furtaram, e mentiram, e debaixo da sua bagagem o puseram. Por isso os filhos de Israel não puderam subsistir perante os seus inimigos; viraram as costas diante dos seus inimigos; porquanto estão amaldiçoados; não serei mais convosco, se não desarraigardes o anátema do meio de vós.”. Josué faz todo esse drama por causa de 36 feridos?! Eles estão em guerra sem parar a 40 anos desde que saíram do Egito e se lamentam desta forma por conta de 36 FERIDOS!!!!????? É inacreditável! Voltemos à passagem e vejamos a conclusão, porém, sabendo tudo o que sabemos até agora, quais seriam as possibilidades de desfecho? Perdão? Óbvio que não... Josué inspeciona todas as tendas e acha o anátema com Acã. Pobre Acã...: Josué, 7:19-25: “Então disse Josué a Acã: Filho meu, dá, peço-te, glória ao SENHOR Deus de Israel, e faze confissão perante ele; e declara-me agora o que fizeste, não mo ocultes. E respondeu Acã a Josué, e disse: Verdadeiramente pequei contra o SENHOR Deus de Israel, e fiz assim e assim Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma cunha de ouro, do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata por baixo dela. Então Josué enviou mensageiros, que foram correndo à tenda; e eis que tudo estava escondido na sua tenda, e a prata por baixo. Tomaram, pois, aquelas coisas do meio da tenda, e as trouxeram a Josué e a todos os filhos de Israel; e as puseram perante o SENHOR. Então Josué, e todo o Israel com ele, tomaram a Acã filho de Zerá, e a prata, e a capa, e a cunha de ouro, e seus filhos, e suas filhas, e seus bois, e seus jumentos, e suas ovelhas, e sua tenda, e tudo quanto ele tinha; e levaram-nos ao vale de Acor. E disse Josué: Por que nos perturbaste? O SENHOR te perturbará neste dia. E todo o Israel o apedrejou; e os queimaram a fogo depois de apedrejá-los.” Não apenas mataram Acã, mas também seus filhos e filhas, e destruíram todos os seus bens.
Esqueceram de Ai e os soldados que feriram 36 judeus? Acham que ia ficar por isso mesmo ou a vingança seria implacável? Josué resolve fazer uma emboscada. Leva 30.000 homens durante a madrugada e cerca Ai. Reserva um parte dos soldados para atrair os homens de Ai para persegui-los novamente. Quando isto ocorre, invadem e incendeiam a cidade. Leiam a barbárie: Josué, 8: 21-29: “E vendo Josué e todo o Israel que a emboscada tomara a cidade, e que a fumaça da cidade subia, voltaram, e feriram os homens de Ai. Também aqueles da cidade lhes saíram ao encontro, e assim ficaram no meio dos israelitas, uns de uma, e outros de outra parte; e feriram-nos, até que nenhum deles sobreviveu nem escapou. Porém ao rei de Ai tomaram vivo, e o trouxeram a Josué. E sucedeu que, acabando os israelitas de matar todos os moradores de Ai no campo, no deserto, onde os tinham seguido, e havendo todos caído ao fio da espada, até serem consumidos, todo o Israel se tornou a Ai e a feriu ao fio de espada. E todos os que caíram aquele dia, assim homens como mulheres, foram doze mil, todos moradores de Ai. Porque Josué não retirou a sua mão, que estendera com a lança, até destruir totalmente a todos os moradores de Ai. Tão-somente os israelitas tomaram para si o gado e os despojos da cidade, conforme à palavra do SENHOR, que tinha ordenado a Josué. Queimou, pois, Josué a Ai e a tornou num montão perpétuo, em ruínas, até ao dia de hoje. E ao rei de Ai enforcou num madeiro, até à tarde; e ao pôr do sol ordenou Josué que o seu corpo fosse tirado do madeiro; e o lançaram à porta da cidade, e levantaram sobre ele um grande montão de pedras, até o dia de hoje.”
Depois de ouvir as atrocidades em Jericó e Ai, os moradores de Gibeom “usaram de astúcia, e foram e se fingiram embaixadores, e levando sacos velhos sobre os seus jumentos, e odres de vinho, velhos, e rotos, e remendados; E vieram a Josué, ao arraial, a Gilgal, e disseram a ele e aos homens de Israel: Viemos de uma terra distante; fazei, pois, agora, acordo conosco.” Três dias depois os judeus descobriram que eles eram de terras vizinhas e tinham ido até eles apenas espionar. Josué fica indignado com a artimanha – ele havia feito a mesma coisa em Jericó – e os homens falaram que se disfarçaram para tentar escapar da morte, pois haviam ouvido falar de Jericó e Ai e temiam o mesmo destino. Josué poupou-lhes a vida, mas os tornaram escravos.
Após esta passagem inicia-se um verdadeiro genocídio. Acompanhem com bastante atenção: Josué, 10:1-6: “E sucedeu que, ouvindo Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém, que Josué tomara a Ai, e a tinha destruído totalmente, e fizera a Ai, e ao seu rei, como tinha feito a Jericó e ao seu rei, e que os moradores de Gibeom fizeram paz com os israelitas, e estavam no meio deles, Temeram muito, porque Gibeom era uma cidade grande, como uma das cidades reais, e ainda maior do que Ai, e todos os seus homens valentes. Pelo que Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém, enviou a Hoão, rei de Hebrom, e a Pirão, rei de Jarmute, e a Jafia, rei de Laquis e a Debir, rei de Eglom, dizendo: Subi a mim, e ajudai-me, e firamos a Gibeom, porquanto fez paz com Josué e com os filhos de Israel. Então se ajuntaram, e subiram cinco reis dos amorreus, o rei de Jerusalém, o rei de Hebrom, o rei de Jarmute, o rei de Laquis, o rei de Eglom, eles e todos os seus exércitos; e sitiaram a Gibeom e pelejaram contra ela. Enviaram, pois, os homens de Gibeom a Josué, ao arraial de Gilgal, dizendo: Não retires as tuas mãos de teus servos; sobe apressadamente a nós, e livra-nos e ajuda-nos, porquanto todos os reis dos amorreus, que habitam na montanha, se ajuntaram contra nós.” Josué, que odiava a paz e não podia perder uma guerra, vai com seus homens, e Deus, para mais uma boa peleja. Expulsaram, com grande matança, os inimigos de Gibeom, com Deus os massacrando jogando pedras lá do céu. Neste momento, Josué usa um golpe baixo: pede para Deus parar o Sol e a lua, para aumentar o dia para poder matar mais gente. Deus assim o faz, e a matança continuou. Houve uma pausa na contenda, e alguém contou a Josué que os cinco reis estavam escondidos em uma cova em Maquedá. Josué ordena que os pegassem e os trouxessem ao arraial. Assim fizeram e Josué mandou enforcá-los. Inicia-se uma passagem extremamente repetitiva, farei a transcrição da primeira, e ao final, só indicarei as cidades arrasadas: Josué, 10:28-29: “E naquele mesmo dia tomou Josué a Maquedá, e feriu-a a fio de espada, bem como ao seu rei; totalmente a destruiu com todos que nela havia, sem nada deixar; e fez ao rei de Maquedá como fizera ao rei de Jericó. Então Josué e todo o Israel com ele, passou de Maquedá a Libna e pelejou contra ela.” O mesmo texto se repete para Libna, Laquis, Gezer, Eglom, Hebrom, Debir, cidades “totalmente destruídas”. E o desfecho do capítulo 10 é triunfal: Josué, 10:40: “Assim feriu Josué toda aquela terra, as montanhas, o sul, e as campinas, e as descidas das águas, e a todos os seus reis; nada deixou; mas tudo o que tinha fôlego destruiu, como ordenara o SENHOR Deus de Israel.” Era literalmente vital conter povo tão beligerante, então o rei de “Hazor, enviou mensageiros ao rei de Madom, ao rei de Sinrom, e ao rei de Acsafe; e aos reis, que estavam ao norte, nas montanhas, e na campina para o sul de Quinerete, e nas planícies, e nas elevações de Dor, do lado do mar, ao cananeu do oriente e do ocidente; e ao amorreu, e ao heteu, e ao perizeu, e ao jebuseu nas montanhas; e ao heveu ao pé de Hermom, na terra de Mizpá.” Saíram todos com seus exércitos, cavalos, carros, tudo o que puderam juntar para bloquear o expansivismo judeu. O resultado já nos é bastante conhecido: Houve o combate, Josué matou todos, não sobrou ninguém. Não satisfeito, foi até as cidades daqueles reis que se uniram para combatê-lo e acabou com tudo, “nada do que tinha fôlego deixaram com vida”. Obviamente, para não esquecermos, os despojos e o gado eles pegavam, mesmo havendo um mandamento proibindo roubar. E, por fim, Josué, 11:16-17: “Assim Josué tomou toda aquela terra, as montanhas, e todo o sul, e toda a terra de Gósen, e as planícies, e as campinas, e as montanhas de Israel, e as suas planícies. Desde o monte Halaque, que sobe a Seir, até Baal-Gade, no vale do Líbano, ao pé do monte de Hermom; também tomou todos os seus reis, e os feriu e os matou.” Josué ainda acaba com os aniquins de Hebrom, de Debir, de Anabe e de todas as montanhas de Judá e de todas as montanhas de Israel. Josué os destruiu totalmente com as suas cidades. E finalmente para de guerrear.
No capítulo 12, há um balanço das terras conquistadas por Moisés e Josué: Moisés: “desde o ribeiro de Arnom, até ao monte de Hermom, e toda a planície do oriente; Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom e que dominava desde Aroer, que está à beira do ribeiro de Arnom, e desde o meio do ribeiro, e a metade de Gileade, e até ao ribeiro de Jaboque, o termo dos filhos de Amom; E desde a campina até ao mar de Quinerete para o oriente, e até ao mar da campina, o Mar Salgado para o oriente, pelo caminho de Bete-Jesimote; e desde o sul, abaixo de Asdote-Pisga; Como também o termo de Ogue, rei de Basã que era do restante dos gigantes e que habitava em Astarote e em Edrei; e dominava no monte Hermom, e em Salcá, e em toda a Basã, até ao termo dos gesureus e dos maacateus, e metade de Gileade, termo de Siom, rei de Hesbom.”
Josué: “desde Baal-Gade, no vale do Líbano, até ao monte Halaque, que sobe a Seir; o que havia nas montanhas, e nas planícies, e nas campinas, e nas descidas das águas, e no deserto, e para o sul: o heteu, o amorreu, e o cananeu, o perizeu, o heveu, e o jebuseu; o rei de Jericó; o rei de Ai, que está ao lado de Betel; o rei de Jerusalém; o rei de Hebrom; o rei de Jarmute; o rei de Laquis;o rei de Eglom; o rei de Geser; o rei de Debir; o rei de Geder; o rei de Hormá; o rei de Harade; o rei de Libna; o rei de Adulão; o rei de Maquedá; o rei de Betel ;o rei de Tapua; o rei de Hefer; o rei de Afeque; o rei de Lassarom; o rei de Madom; o rei de Hazor; o rei de Sinrom-Meron; o rei de Acsafe; o rei de Taanaque; o rei de Megido; o rei de Quedes; o rei de Jocneão do Carmelo; o rei de Dor no outeiro de Dor; o rei de Goiim em Gilgal; o rei de Tirza; trinta e um reis ao todo.”
O que dizer do mandamento “não matarás”?
Escuto quase todos os dias algo a respeito da bíblia. Na verdade, todos nós, ocidentais, escutamos crentes falando a respeito, pessoas temendo, respeitando, leigos ou não. Assistimos a filmes bíblicos, ou com citações dela – lembram das cenas clássicas de tribunal, alguém jurando dizer a verdade com a mão sobre a bíblia? – enfim, para a imensa maioria de nós a bíblia é tida como um livro infalível. E isso nos é enraizado desde a infância, em nosso cotidiano. Claro que muitos escritores de diversas épocas, religiosos ou não, já escreveram a criticando duramente, alguns mais que outros, vide O Anticristo, de Nietsche, ou Sobre a Religião, de Marx, entre outras, ou mesmo Freud, em várias de suas obras (de forma mais sutil). Mas a maioria não leu, ou não entendeu, e as críticas feitas não venceram o medo e o respeito impetrado por séculos e séculos.
Citei especificamente esses dois últimos filósofos por serem judeus, e que tiveram mentes das mais brilhantes da história. Meu intuito não é maldizer o povo judeu. Na verdade, é mais um exercício pessoal de leitura de algo que ouvimos falar, mas não buscamos na fonte. A maioria das pessoas que eu escuto falar qualquer coisa sobre a Bíblia, tais como “é o livro sagrado”, ou “foi escrito por inspiração de Deus”, ou “é a palavra de Deus”, ou qualquer outra coisa parecida, quando eu indago se já leram me respondem que não, ou então “alguns trechos”, ou então que ouviram o pastor ou o padre ler uma parte no culto ou na missa. Para falar bem a verdade mesmo, eu nunca ouvi alguém dizer que realmente leu toda a Bíblia. Creio, infelizmente, que o medo e o respeito que por gerações e gerações foi imposto pela religião fazem com que, mesmo que essas pessoas leiam a Bíblia, não a vejam como um livro escrito por homens, há milênios, e que, devido a isso, seja passível de enganos, exageros, desconhecimentos de causas e efeitos que só seriam descobertos muito tempo depois, livre de dogmas e características geográficas. Um exemplo: se Moisés fosse japonês, e tivesse a abundância de alimentos marinhos, os mandamentos proibiriam os crustáceos, os peixes de couro, os moluscos? Qual seria o propósito deste mandamento? Com certeza, para um povo do deserto, o simples tempo de locomoção destes alimentos do local de origem até o consumo, além do calor, já o putrefariam e certamente fariam muito mal. Como explicar isto em termos científicos há uns cinco mil anos? Simplesmente a explicação é: Deus não permite.
Não há como não observar na Bíblia o caráter segregacionista. Tanto no antigo testamento, como nos evangelhos e apocalipse, a “salvação” é sempre para o judeu e depois para aqueles que acreditam em Cristo. Tudo o que não estiver enquadrado nesses dois quesitos sofrerá castigos dos mais terríveis. E não podemos esquecer do islã, que bebe da mesma fonte original. Para todos estes, tudo o que estiver fora do seu grupo é infiel e não cairá nas graças de Deus. O problema desta filosofia segregacionista é geralmente, aliás, frequentemente, sair do campo unicamente das ideias e entrar no da prática. Desde a origem a guerra não cessa, como já analisamos. As possibilidades de interpretação da Bíblia são inúmeras, isso sem contar as traduções, e a cada interpretação, o germe da segregação se impõe, pois está entranhado nela própria. Judeu guerreia contra seus vizinhos muçulmanos; católicos atacam luteranistas, judeus, não-católicos, muçulmanos, ortodoxos; protestantes atacam católicos, muçulmanos contra judeus, cristãos; etc, etc, etc... quantas vezes não presenciamos estes fatos na história? Cada um dos ramos oriundos desta raiz monoteísta se considera detentor legítimo da verdade das escrituras, e os demais são infiéis, hereges, não estão entre os “escolhidos”. A guerra sempre estará presente, é intrínseca.
Há como mensurar o mal à humanidade causado pelas interpretações bíblicas? Milênios de perseguições, guerras, massacres, castigos, angústias, exílios, mentiras, enganos, medos, julgamentos... Há como mensurar?
Existe um conceito budista que é muito conhecido erroneamente entre nós ocidentais. É o conceito de Karma. É uma palavra sânscrita que significa literalmente “ação”. Normalmente a usamos para nos referir a algo ruim, por exemplo: “Aquele problema é o meu carma!”. Mas na verdade o karma pode ser bom. Karma é o resultado do que fazemos. Voltando à Bíblia, nos evangelhos, é o correspondente do que Cristo diz na passagem “colher o que semear”. Independente de qualquer interpretação religiosa – aliás é a síntese budista – faz um imenso sentido. É transcendental: somos responsáveis pelas consequências dos nossos atos. Teremos paz se a cultivarmos, teremos guerra idem. Teremos justiça, bondade, fraternidade, prosperidade, e todas as características universalmente “boas” apenas se as cultivarmos, e se não as cultivarmos, não as teremos, tanto individual como coletivamente. E literalmente ponto final. É impressionantemente simples.
Encerro este texto rogando ao Deus universal, ao verdadeiro Deus; que nos deu uma natureza perfeita, um Cosmos perfeito, que pode durante bilhões e bilhões de anos se desenvolver através de construções e destruições infinitas, renovações e renovações de matérias de todas as espécies, até gerar a nós, homens, e nos dotar de inteligência para podermos entender, apreciar e amar toda essa perfeita obra, da qual fazemos parte; que ilumine e dê paz a todos os povos. Especialmente aos judeus, que recentemente foram perseguidos por Hitler, com sua insanidade, e tiveram uns seis milhões de irmãos mortos.
Mas rogo também, Deus, que ilumine e conforte as almas dos 3.000 judeus mortos por adorarem, sem saber que estavam fazendo tanto mal, o bezerro; ao homem que apanhava lenha ao sábado; à cidade inteira de Arade; à população dos amorreus de Arnom até Jaboque; à toda população de Jazer; de Basã; a todos os midianitas, e suas 32.000 meninas virgens escravizadas; à todas as cidades entre Arden e Gileade, no Hesbom; à todas as 60 cidades da região de Argobe; a Jericó; a Acã e seus filhos; à cidade de Ai; à Maquedá; à Libna; à Láquis; à Gezer; à Eglom; ao Hebrom; à Debir; à Geder; à Hormá; à Harade; à Adulão; à Betel; à Tapua; à Hefer; à Afeque; à Lassamom; à Madom; à Hazor; à Sinrom-Meron; à Acsafe; à Taanaque; à Megido; à Quedes; à Jacneão; à Dor; à Goiime e à Tirza; que tiveram “tudo o que tinha fôlego” “completamente destruído” pelos judeus “recentemente” também, a seus olhos, já que sua noção de tempo é infinita.
Amém.

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