quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Para me condenar por meu desprezo pela autoridade, o destino me fez de mim mesmo uma autoridade"

Em 14 de março de 1879 nascia em Ulm, na região de Württemberg, hoje Alemanha, o filho de Hermann e Pauline. Refez a compreensão do universo através do seu dom de pensar diferente, e mudou completamente a visão do Cosmos. Foi admirado e homenageado por todo o mundo, pelo seu brilhantismo, complacência e coragem ante questões político-sociais.
Começou a falar muito tarde em sua infância, preocupando seus pais, que o levou ao médico por conta disso. Foi um estudante indiferente na escola primária. Em sua mocidade, o nacionalismo e a rigidez intelectual marcavam a educação européia. Conforme se viu no futuro, ele sempre detestou a rigidez em tudo... política, ensino, ciência, e se insurgia contra isso. Com cinco anos impressionava-se com a bússola, aos doze se maravilhou com um pequeno livro de geometria euclidiana, e se aprofundou por conta própria ao estudo da matemática. Nenhum dos seus professores conseguiu reconhecer sua genialidade. Aos quinze anos pressionaram-no para que deixasse o Gymnasium de Munique: "Sua mera presença compromete o respeito da classe por mim"... "Você nunca conseguirá nada!" Diziam os mestres... aceitou a "proposta e passou meses vagueando pelo norte da Itália e teve nesse momento uma das idéias mais "loucas": como veríamos o mundo se viajássemos na velocidade da luz? Sempre preferiu roupas e maneiras informais, se vivesse nas décadas de 1960 ou 1970, ou até hoje, grande parte das pessoas iriam classificá-lo como um "ripongo".
Porém a sua curiosidade pela física e admiração pelo universo sobrepujaram o desgosto pela educação formal: tentou se inscrever no Instituto Federal de Tecnologia em Zurique, na Suiça. Foi reprovado. Inscreveu-se numa escola secundária para corrigir as deficiências, e entrou no ano seguinte. Ainda era um estudante medíocre. Ressentia-se do currículo programado, fugia da sala de aula e procurava satisfazer os próprios interesses. Conseguiu diplomar-se porque seu grande amigo, Marcel Grossmann era um excelente aluno, assistia às aulas e lhe emprestava as anotações.
Manteve-se durante um tempo em empregos ocasionais e foi preterido em várias posições que pleiteara. Graças ao pai de Marcel foi trabalhar como examinador de requerimentos no serviço de patentes em Berna. Rejeitou a nacionalidade germânica e se tornou cidadão suiço. Casou-se com a namorada do colégio. Logo aprendeu a executar as tarefas rapidamente, o que lhe permitia ter tempo precioso para seus próprios cálculos. Quando ouvia passos se aproximando de seu posto de trabalho, ele rapidamente os guardava na gaveta... essas foram as circunstâncias da Teoria da Relatividade!... e obviamente estamos falando de Albert Einstein!
Em 1905 ele publicou quatro artigos, produto de seu tempo livre no serviço de patentes: no primeiro ele demonstrava que a luz tem propriedades tanto de partículas quanto de ondas, e explicava o até então estranho efeito fotoelétrico pelo qual os elétrons são emitidos por corpos sólidos, quando estes são irradiados pela luz. O segundo artigo abordava a natureza das moléculas de pequenas partículas em suspensão. E os dois últimos apresentavam a teoria Especial da Relatividade e expressavam pela primeira vez a famosa equação E = mc². Esses quatro artigos publicados no principal jornal de física da época, o Annalen der Physik, teriam sido impressionantes como produção intelectual de uma vida inteira de um físico trabalhando em tempo integral, quanto mais de um funcionário de patentes de 26 anos. Historiadores da ciência chamaram o ano de 1905 de Annus Mirabilis - o ano milagroso. Somente um ano se pareceu com esse: 1666, quando Isaac Newton, com 24 anos, isolou-se no campo devido a uma epidemia de peste bubônica e produziu uma explicação da natureza espectral da luz solar, além de divisar a teoria da gravitação universal.
A Relatividade Especial não foi aceita de imediato. Tentou a carreira acadêmica sustentando suas pesquisas, mas foram rejeitadas como incompreensíveis, e ele continuou trabalhando no serviço de patentes por mais quatro anos. Mas seu trabalho não passou despercebido, começou a ficar evidente que ele podia ser um dos maiores cientistas de todos os tempos. Em uma carta de recomendação para um cargo na Universidade de Berlim, um líder da ciência alemã sugeria que a relatividade era uma "hipotética aberração momentânea", mas que Einstein era um grande pensador. Seu Prêmio Nobel foi concedido por seu trabalho sobre o efeito fotoelétrico em 1921... a relatividade ainda era muito estranha para ser mencionada.
Einstein se considerava um socialista. Tinha plena certeza que a 1° Guerra Mundial havia ocorrido principalmente por causa da intriga e incompetência das classes dirigentes, conclusão concordada por muitos historiadores, e se tornou também um pacifista.
Surgia nos anos 20, com a ascensão nazista, uma campanha pública contra Einstein. Promoveram-se encontros populares com tendências anti-semitas em várias cidades com o intuito de denunciar a teoria da relatividade. Einstein testemunhou em diversos tribunais a favor de membros do círculo acadêmico processados por causa dos seus pontos de vista políticos. Quando Hitler se tornou chanceler em 33, Einstein fugiu da Alemanha com sua segunda mulher e filhos. Os nazistas queimaram os trabalhos científicos de Einstein juntamente com outros livros de autores antifascistas em fogueiras públicas. Lançou-se ataques por todos os lados contra sua reputação científica. Os ataques foram liderados por outro ganhador do Nobel, Philip Lenard, que denunciou o "espírito asiático na ciência"..."nosso Führer eliminou esse espírito na política e na economia nacionais, onde é conhecido como marxismo. Na ciência natural, contudo, com a principal ênfase em Einstein, esse espírito ainda se mantém. Devemos reconhecer que é indigno de um alemão ser acólito intelectual de um judeu. A ciência natural propriamente dita é de origem ariana(...) Heil Hitler!" Ironicamente, mais ou menos no mesmo tempo, intelectuais stalinistas denunciavam a relatividade como "física burguesa".
Apoiava o sionismo, apesar do distanciamento religioso, muito em função do recrudescimento anti-sionista na Alemanha Nazista, mas muitos grupos sionistas o repeliram, principalmente porque ele exigia que os judeus se esforçassem no sentido de se aproximarem dos árabes e viverem em paz - uma devoção ao relativismo cultural.
Após deixar a Alemanha, Eistein soube que os nazistas tinham colocado sua cabeça a prêmio por 20 mil marcos - "não sabia que ela valia tanto" - Foi nomeado para o Instituto de Estudos Avançados em Princeton, onde ficaria o resto da vida. Quando perguntado qual salário considerava justo, sugeriu 3 mil dólares anuais. Vendo o espanto na face dos representantes do Instituto, achou sua proposta muito elevada, e baixou a quantia. Fixaram-lhe 16 mil dólares anuais.
Seu prestígio era tão grande que outros físicos europeus emigrados para os EUA se aproximaram dele. Solicitaram que intercedesse junto ao presidente norte-americano o desenvolvimento da bomba atômica para ultrapassar os esforços alemães na criação de armas nucleares. Não estava trabalhando na física nuclear, nem participou do projeto Manhattan mas escreveu a famosa carta a Roosevelt propondo o desenvolvimento desta. Anos depois, junto com Bertrand Russell e outros cientistas participou do frustrado movimento de interditar o desenvolvimento de armas nucleares. Escreveu: " Podermos escolher entre proibir as armas nucleares e defrontarmo-nos com a aniquilação geral (...) O nacionalismo é uma doença infantil, é o sarampo da humanidade. Nossos livros escolares glorificam a guerra e ocultam seus horrores. Eles inculcam o ódio nas veias das crianças. Eu ensinaria antes a paz do que a guerra. Procuraria inocular o amor e não o ódio."
Foi um grande defensor das liberdades civis nos EUA durante o obscuro período do macarthismo, conclamando os acusados a se negarem a testemunhar diante da Comissão de Atividades Antiamericanas na Câmara dos Deputados. Foi amplamente atacado pela imprensa e o próprio senador McCarthy declarou ser ele um inimigo da América.
Nos seus últimos anos, Einstein parecia, e de certo modo era, uma espécie de hippie idoso. Deixou o cabelo crescer e usava suéteres e jaquetas de couro ao invés de terno, mesmo quando recebia visitantes famosos. Absolutamente despretensioso, sem afetação alguma. "Falo com todas as pessoas do mesmo modo, sejam elas um lixeiro ou o Reitor da Universidade." Muitas vezes aparecia em público, às vezes caminhava e ajudava estudantes secundaristas com seus problemas de geometria (nem sempre com sucesso). Em matéria de religião seu pensamento foi mais profundo que a da maioria dos cientistas, mas muitas vezes incompreendido. Certa vez, o cardeal de Boston disse que a teoria da relatividade "ocultava a repugnante aparência do ateísmo". O rabino de Nova Iorque, alarmado, telegrafou a Einstein: "O Senhor acredita em Deus?" Ele respondeu:"Acredito no Deus de Spinoza, que se revela na harmonia de todos os seres, não no Deus que se interessa pela sorte e ação dos homens."
Morreu em 18 de abril de 1955, aos 76 anos. Um pouco antes escreveu: "Lá distante estava esse imenso mundo, o qual existe independente de nós como um grande e eterno enigma, ao menos em parte acessível ao nosso exame e meditação. A contemplação desse mundo nos acena como uma libertação (...) O caminho que conduz a esse paraíso não é tão confortável e atraente como o caminho do paraíso religioso, mas tem-se mostrado confiável, e eu nunca lamentei tê-lo escolhido"
Obrigado, Einstein!
(Texto adaptado de Carl Sagan)