segunda-feira, 28 de maio de 2012

Tales de Mileto e a sombra.

Eis o primeiro grande "pensador" da história. Tales, filho de Examyas e Cleobulina, nascido por volta de 620 a.C. em Mileto, na Jônia, à beira do mar Egeu. Não teve filhos, mas adotou o sobrinho, filho de sua irmã, Kybisthos. Nasceu em uma das primeiras cidades-estado, e nenhum rei ali reinava. Era portanto um homem livre. Antes dele, os pensadores eram os magos, escribas, sacerdotes, guarda-livros, gente que contava histórias, fazia preces, ou cálculos para algum rei... Tales fez perguntas: o que é pensar? quais as relações entre o que penso e o que realmente é? haveria coisas que escapam dos pensamentos? qual é a natureza fundamental das coisas? Perguntas que até então não haviam sido feitas. É considerado o primeiro filósofo e matemático. Aliás, em sua época, essas duas palavras ainda não existiam. Foi o primeiro ser humano a enunciar resultados relativos a objetos matemáticos. Afirmou que os ângulos opostos pelo vértice formados por duas retas que se cruzam são iguais. Seu interesse maior era a geometria (que também ainda não existia) servindo de fonte para Euclides séculos depois. Demonstrou que um triângulo isósceles (iso - igual, skelos - perna) tinha dois ângulos iguais, estabelecendo vínculos entre os comprimentos e os ângulos. Sua ambição matemática era emitir verdades relativas a uma classe inteira de figuras geométricas. "Toda reta que passa pelo centro de uma circunferência a corta em duas partes iguais". Para nós, hoje, 27 séculos depois, é difícil imaginar essa frase com ineditismo, mas pensemos: foi um marco para o pensamento humano. Segundo os registros, Tales viajava muito (também no sentido de devanear) e em uma de suas viagens teve o insight para o seu famoso teorema: Após dias navegando, chegou à costa egípcia, e embarcou novamente, agora em uma falua, para subir o Nilo. Após algumas paradas, ele chegou ao seu destino... erguida em um platô, próximo a beira do rio, avistou o maior monumento já construído: a pirâmide de Quéops! Fazia suas irmãs, Quéfren e Miquerinos parecerem pequenas. Tales já havia sido avisado por outros viajantes da colossal imagem que veria, mas o monumento superou a sua imaginação. Caminhou até a base dela e sentou-se, hipnotizado. Um felá (homem do campo egípcio) chegou-se. Perguntou a Tales se ele imaginava quantas vidas custaram a construção daquela obra. Não fazia ideia... "para quê tantos mortos para se construir um monumento?" O felá lhe respondeu que fora construída pelo faraó Quéops com o único objetivo de obrigar os humanos a se persuadirem da própria pequenez, para nos oprimir pela sua grandeza, para nos mostrar o quão ínfimos somos, e o objetivo fora alcançado. O faraó quis que percebêssemos que nós homens e essa pirâmide não somos mensuráveis pela mesma medida. Era a megalomania descarada aos olhos de Tales. Porém o felá estava certo em um ponto: mesmo tendo sido construída pelos homens, estava além de seus conhecimentos. Era a maior construção existente e sua altura era impossível de ser medida. Passaram a noite na base da pirâmide. Imaginemos o espírito investigador de Tales pensando na medida da pirâmide... Quando o sol raiou, Tales se levantou e viu sua sombra se voltar para o oeste. Ficou imóvel por um tempo, olhando para sua sombra nas areias. Observou que ela diminuía a medida que o sol subia nos céus. Fosse o seu deus Hélio, ou o Rá dos egípcios, o Sol iguala todos na terra. Aí estava o seu aliado para a medida da pirâmide! Seja o mínimo homem ou o colossal monumento, o Sol estabelece a possibilidade da medida comum. Sua mente captou o seguinte: a relação que mantenho com a minha sombra é a mesma que a pirâmide mantém com a dela. Pediu ajuda ao felá: Tales traçou na areia uma circunferência de raio igual a sua altura e colocou-se no centro de pé. Ficou observando sua sombra... quando ela tocou a linha traçada no chão, gritou ao felá, que estava a espera do sinal. Este correu e fincou uma estaca no local onde a sombra da pirâmide estava. Tales saiu de sua posição e com a ajuda de uma corda mediu a distância que separava a base da pirâmide da estaca. Depois calculou a distância entre a extremidade da pirâmide ao seu meio e somou as medidas. Estava medida a altura da pirâmide. Foi uma artimanha da mente, magia do espírito.

Um comentário:

Um outro dia disse...

O cara era um gênio! Conhecia tão pouco da história deste ao ler fiquei surpreendida, e fascinada!