quinta-feira, 12 de julho de 2012

Moby Dick

Oh, a velha e rara baleia, em meio à tempestade e à ventania
Em seu lar oceânico será
Um gigante na força, onde a força é o direito,
E soberana do mar sem limites.
Antiga canção baleeira.
De todos os clássicos que li, um dos mais marcantes foi Moby Dick. Esplêndido! Li incessantemente, me imaginando tripulante da obsessiva expedição. Escrito em 1850 por Herman Melville, se tornou um clássico da literatura mundial. Nascido em Nova Iorque, Melville teve uma infância muito dura - era órfão de pai - e teve que abandonar os estudos para trabalhar. Em 1841 engajou-se como baleeiro no Acushnet e em 1842 foi capturado pelos taipis nas Ilhas Marquesas. Apesar da fama de canibalismo dos nativos, fora tratado com relativa hospitalidade, concluindo, mesmo sem ter lido Rosseau, que o selvagem é puro e bom, a civilização é que o corrompe. Na obra, essa ideia é passada através do amigo do protagonista Ishmael, Quiqueg. Baseado em suas próprias experiências e em relatos do famoso naufrágio do baleeiro Essex, de Nantucket, que foi atacado e destruído por uma imensa cachalote no Pacífico em 1821, ele escreveu este maravilhoso livro. Moby Dick é uma imensa e feroz cachalote branca, obsessivamente caçada pelo capitão do navio Pequod, o misterioso Acab, com uma perna feita com osso polido de cachalote. Representa a luta do bem contra o mal, a luta do humano contra o absoluto ameaçador, uma vingança obsessiva, a busca pela perfeição... leiam e interpretem como convier, o livro é maravilhoso! Muito me chamou a atenção um capítulo específico, o XLII, "A brancura do cachalote" em que o protagonista Ishmael trata da dualidade da representação da cor branca. Vejam alguns trechos:
"Era a brancura do cachalote que sobre todas as outras coisas me assustava.(...) Embora em muitos objetos naturais a brancura realce requintadamente a beleza(...) como sucede com os mármores, as camélias e as pérolas; e embora algumas nações tenham de algum modo reconhecido certa preeminência em tal cor, como se dá com os bárbaros e imponentes reis de Pegu colocando o título "Senhor dos Elefantes Brancos" (...) com os modernos reis de Sião desfraldando a imagem do mesmo quadrúpede, branca de neve, em sua bandeira,(...) com a flâmula de Hanover mostrando uma só figura, a de um corcel branco de neve; e com o grande império Austríaco, cesáreo, herdeiro da soberana Roma, tendo como cor o mesmo matiz imperial;(...) a brancura simbolize a alegria, pois entre os romanos uma pedra branca assinalava os dias felizes;(...) a inocência das noivas, a benignidade da velhice;(...) nos mistérios supremos das mais augustas religiões ele tenha sido erigido em símbolo da pureza e da força divina, sendo a chama branca bifurcada tida como a mais santa do altar pelos adoradores persas do fogo(...) Jove, num touro branco de neve(...) esconde-se algo enganador na mais secreta ideia dessa cor, a qual traz mais pânico à alma do que a vermelhidão que assusta no sangue. Essa qualidade enganadora é que faz a ideia de brancura, quando divorciada de associações mais amáveis e unida a algum objeto terrível em si mesmo, intensificar aquele terror até limites extremos. Testemunhem-no o urso branco dos pólos e o tubarão branco dos trópicos; que é que os transforma nos sumos horrores que são, a não ser aquela brancura lisa ou flocosa? Essa brancura espectral é que transmite tão detestável suavidade, até mais repulsa do que terrível, à muda e maligna exultação do seu aspecto." - N. do A. - "Essa particularidade é vivissimamente acentuada pelos franceses, com o nome que dão a esse peixe. A missa católica de defuntos começa com Requiem aeternam (repouso eterno), donde o nome de Requiem para a própria missa ou qualquer música fúnebre. Ora, aludindo à quietude de morte, branca e silenciosa, desse tubarão, e à branda mortalidade de seus hábitos, os franceses chamam-no Requin"."Que existe no albino que tão especificamente repugna e amiúde choca a vista, a ponto de às vezes causar aversão à sua própria parentela?(...) Por seu aspecto nevoso, o fantasma enluvado dos mares do sul recebeu a designação de Tempestade Branca.(...) o único predicado visível, na aparência dos mortos, que apavora ao máximo que os vê, é o palor marmóreo que neles permanece,(...)Será que por sua indefinição ele representa os vazios e imensidades sem coração do universo, e assim nos apunhala por trás com o pensamento de aniquilação, quando contemplamos os brancos abismos da Via-Láctea? Ou será porque, no fundo, o branco não é bem uma cor, mas a ausência vivível da cor, e ao mesmo tempo a suma de todas as cores; será por isso que há uma brancura muda e cheia de sentido numa ampla paisagem nevosa - um descolorido, onicolor, ateísmo ante o qual recuamos?(...) e quando prosseguimos e consideramos que o misterioso cosmético que produz todas as cores, o grande princípio da luz, permanece sempre branco ou incolor em si mesmo(...) De todas essas coisas o cachalote albino era o símbolo. Admirai-vos pois da furiosa caçada?"

Um comentário:

Anônimo disse...

O alvo seu alvo e Moby Dick só um pretexto? ... d qq forma continua retalhando lindamente, Maneco!!! Parabéns! Separa mais esse p mim ;) Se passar por algo parecido no mar vai ter q remar até se resguardar no "alvo" das garças... Rs! Bjão ;)