domingo, 11 de março de 2012

Bhagavad-gita.

Essência do conhecimento védico da Índia, é uma das maiores obras filosóficas e espiritualistas do mundo. Faz parte do épico monumental Mahabarata, o maior volume de texto escrito em uma única obra da humanidade, com mais de 90.000 versos, escrito por volta do séc. VI antes de Cristo. O Bhagavad-gita é uma das principais escrituras sagradas da cultura indiana, e compõe a principal obra da religião Vaishnava, também conhecida como movimento Hare Krishna, além de influenciar inúmeros movimentos espiritualistas e filosóficos.
Apresento uma introdução escrita por Chandramukha Swami, da obra Meditando com Krishna, que acho belamente resumida:

"Dhritarastra era o irmão mais velho de Pându, mas como havia nascido cego, não pode herdar o trono de seu falecido pai. Assim, o virtuoso Pându tornou-se o imperador do mundo. Entretanto, os desígnios misteriosos do destino surpreenderam-no com uma morte prematura, num momento em que seus cinco filhos, conhecidos como Pândavas, ainda não tinham idade suficiente para reinar.
Com a morte de Pându, o cego Dhritarastra teve que assumir temporariamente o comando do império. Seus filhos eram conhecidos como Kurus e o principal deles, o invejoso Duryôdhana, personificava a própria desavença.
Assim, enquanto esperavam a maioridade para assumir o reinado, os órfãos Pândavas cresceram juntamente com seus primos, sob os cuidados de Dhritarastra. À medida que isso acontecia, a natureza divina e a nobreza de caráter dos Pândavas acompanhavam o seu crescimento. Por um lado, eles se tornavam cada vez mais admirados e amados por todos e, por outro, mais odiado e invejado por seus primos. Não suportando a idéia de que os piedosos Pândavas pudessem assumir o trono ocupado por seu pai, os Kurus arquitetaram diversos planos perversos para matá-los. Porém, como os Pândavas estavam resguardados pela proteção divina, todas essas investidas foram mal sucedidas.
Pacientemente, os Pândavas toleraram os diferentes atentados contra suas vidas e, em nome da paz, estavam dispostos até mesmo a trocar o vasto império por uma insignificante porção de terra. Mas nem isso os Kurus concordaram em aceitar. Diante dessa insustentável situação, uma grande batalha fratricida tornou-se inevitável. Portanto, para impedir que a humanidade sofresse nas mãos de uma liderança mal intencionada, os Pândavas foram forçados a se apresentar com sua força militar no campo de batalha de Karukshetra, onde todos os guerreiros do mundo se dividiram em dois grandes exércitos. Enquanto alguns combatentes se aliaram aos Pândavas, que eram liderados por Árjuna, o maior arqueiro do mundo, a maioria decidiu apoiar os Kurus.
Nesse momento decisivo da história, Krishna, a Pessoa Suprema, vivia na terra e Se relacionava com Árjuna como primo e amigo pessoal. Ele havia acompanhado todas as tentativas frustradas de conciliação, tendo inclusive intermediado a última proposta de paz. Como conhecia profundamente o piedoso Árjuna, Krishna sabia que, sob a pressão do iminente confronto familiar, seu apego o levaria à decisão imatura de abandonar seu dever, o que comprometeria o Dharma, a ordem do mundo. Portanto, para ajudá-lo a superar sua fraqueza e, ao mesmo tempo, colocar a humanidade sob a proteção de uma liderança qualificada, Krishna Se dispõe a conduzir sua carruagem na luta contra o mal.
Na verdade, a batalha não passou de um excelente pretexto para que o diálogo transcendental entre Krishna e Árjuna tivesse lugar, oferecendo um guia perfeito de autoconhecimento para as futuras gerações. Em outras palavras, o dilema vivido por Árjuna é familiar a todos, pois, de uma maneira ou de outra, os apegos e condicionamentos atuam sempre como verdadeiros inimigos.
O cenário está montado. Os dois exércitos estão enfileirados. Búzios, clarins, cornetas e tambores soam com estrondoso vigor, iniciando que o início da batalha está próximo. Atendendo ao pedido de Árjuna, Krishna guia sua carruagem até o meio dos dois exércitos. Então, diante dos combatentes adversários, Árjuna reconhece inúmeros mestres, tios, primos, amigos e pessoas queridas por ele. Tomado pela compaixão e pelo medo, seu corpo treme, sua mente se agita e seu arco e flechas escorregam das mãos. Com lágrimas nos olhos, Árjuna diz:
- Ó Krishna, quão grande é minha desgraça! Mesmo que a cobiça tenha dominado meus parentes, não concordo em lutar contra eles simplesmente em troca de reino ou felicidade mundana! Que terrível destino conquistar uma herança coberta de sangue! Mesmo que seja correto combater os agressores do Dharma, eles são meus parentes e tenho profunda adoração por eles. Ó Govinda, eu não lutarei!
Vendo a condição desamparada de Seu amigo, Krishna diz: - Querido Árjuna, tua dita compaixão não passa de sentimentos egoístas, e tua pretensa não-violência, de mera covardia. O que ganharás com essa impotência? Entregar-se a ela significa se privar da elevação aos planetas superiores e garantir tua desonra na Terra. Portanto, levanta-te e luta!"

Inicia-se então um dos mais espetaculares diálogos da história. Na realidade, a luta de Árjuna, é a luta do homem para alcançar a felicidade através do desapego das coisas materiais e da consciência cósmica. O campo de batalha é ilusório e está na mente de Árjuna.
Indico a todos que leiam, se não todo, trechos do Bhagavad-gita, pois é de uma beleza e sabedoria incomuns, um monumento a literatura universal.

3 comentários:

Um outro dia disse...

Ah,já conhecia esta história, mas foi bom acordá-la de novo do sono profundo do consciente. rs'

Anônimo disse...

Via twitter garota do blog:
Olá maneco, Sou Mônica, tenho 47anos, vi o anúncio do seu blog pelo twitter da Garota do blog, adorei conhecer o que você escreve,percebo que é uma versão resumida, gostaria que passasse um site para que eu possa conhecer a história mais afundo. desde já agradeço.
Obrigada: Mônica.

Maneco Retalhando disse...

Olá Mônica, é uma honra conhecê-la também. Eu indico pela net:http://www.gita-society.com/language/brazil_intro.htm.
Mas também seria legal que você procurasse o livro... resumido já seria muito legal, já que é muito grande e alguns trechos não fazem muito sentido para a maioria de nós ocidentais. Acho que você vai gostar.