segunda-feira, 26 de março de 2012

Cantoria - Saga da Amazônia

Obra clássica da música regional brasileira, o disco Cantoria, com Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai. O disco inteiro é espetacular, simplesmente um dos melhores que já ouvi. Em uma das músicas, Vital Farias conta a história da Amazônia englobando tanto o problema ambiental quanto social de uma forma tão elegante, tão inteligente e simples que arrepia. Vocês verão!
A fina flor da música brasileira.



Saga da Amazônia

Era uma vez na Amazônia, a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d´água as Iaras, caboclos lendas e mágoas
e os rios puxando as águas
Papagaios. periquitos cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o Jurupari, Uirapuru, seu porvir
era fauna, flora, frutos e flores.

Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro pra comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante prá acabar com a capoeira.

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
pro dragão cortar madeira e toda a mata derrubar
se a floresta, meu amigo, tivesse pé pra andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá.

O que se corta em segundos gasta tempo pra vingar
e o fruto que dá no cacho pra gente se alimentar?
Depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua na floresta a devorar
e quem habita essa mata pra onde vai se mudar?
Corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá,
tartaruga, pé-ligeiro, corre corre tribo dos Kamayurás.

No lugar que havia mata hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só pra roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Nana tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão.

Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro que o estrangeiro
Roubou Seu Lugar

Foi então que o violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor
pra gente que tem memória, muita crença, muito amor
pra defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
Era Uma Vez Uma Floresta Na Linha Do Equador.

Um comentário:

Um outro dia disse...

Além de estar sem palavras para descrever tal beleza,fico com o enigma se já conhecia ou não, pois ouve momentos na leitura que meu pensamento reconheceu trechos,porém não sei se era mesmo um reencontro, ou uma ilusão deste!