sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Cartas Inglesas de Voltaire.

François Marie Arouet, mais conhecido pelo seu pseudônimo, Voltaire, nasceu em Paris em 1694. Seu pai queria vê-lo estudando direito para se tornar um advogado e o colocou no colégio Louis Le Grand, de professores jesuítas. Ainda bem menino, um relatório dos professores assim o descreveu: "rapaz de muito talento, mas patife notável," Era um gênio ácido e sarcástico. Volta e meia se metia em confusões e em 1717 foi preso na Bastilha por ter escrito anedotas sobre o regente, o Duque de Orléans. Ao sair, arrumou outra confusão com o duque de Sully, e desta vez preferiu se exilar na Inglaterra. Este exílio foi decisivo para seu crescimento intelectual e filosófico, pois lá se relacionou com pesos pesados como Alexander Pope, Jonathan Swift, Berkeley e Clarke. Foi o principal divulgador do pensamento inglês no continente europeu, principalmente a teoria empirista e a nova visão do mundo revelada por Isaac Newton, através de correspondências que posteriormente seriam publicadas sob o nome de Cartas Filosóficas. Essas Cartas Filosóficas foram condenadas à fogueira por desrespeito às autoridades e por serem contrárias à religião e aos bons costumes. Sentindo que poderia novamente passar mais um período na Bastilha refugia-se no castelo de Cirey de propriedade de sua amante, a Marquesa de Châtelet.
Vejam um trecho que acho fantástico:
Sexta Carta - Sobre os Presbiterianos
(...)Como os padres desta seita vivem de pagas muito medíocres, não podendo gozar os mesmos luxos que os bispos, decidiram naturalmente clamar contra as honras que não podem alcançar.(...)Trataram o Rei Carlos II (...)quando tomaram armas por ele contra Cromwell, que os enganara, faziam o pobre rei aguentar quatro sermões por dia. Proibiam que jogasse; exigiam que penitenciasse, a tal ponto que Carlos II cansou-se de ser rei desses mestres enfatuados e fugiu de suas mãos como um estudante escapole do colégio.
(...)Possuidores de algumas igrejas na Inglaterra, esses senhores introduziram na região a moda do ar grave e severo. Deve-se a eles a santificação do domingo nos três reinos: nesse dia é proibido trabalhar e divertir-se, portanto a severidade é dupla comparada à Igreja Católica. Nada de ópera, nem de comédia, nem de concertos aos domingos em Londres. Até mesmo o baralho é expressamente proibido, e só as pessoas de qualidade - chamadas gente honesta - jogam nesse dia. O resto da nação vai ao sermão, ao botequim e ao bordel.
Entrai na Bolsa de Londres, praça mais respeitável do que muitas cortes. Aí vereis reunidos, para a utilidade dos homens, deputados de todas as nações. O judeu, o maometano e o cristão negociam reciprocamente como se pertencessem todos à mesma religião. Só é infiel que vai à bancarrota. O presbiteriano confia no anabatista, e o anglicano, na promessa do quaker. Ao sair dessas assembleias livres e pacíficas, uns vão à sinagoga, outros vão beber. Um vai ser batizado numa grande cuba de água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Outro leva o filho para que lhe cortem o prepúcio e despejem sobre sua cabeça resmungos hebraicos incompreensíveis. Outros vão à sua igreja e, enchapelados, esperam a inspiração de Deus. E todos estão contentes.
Se houvesse uma única religião na Inglaterra, o despotismo seria temível; se houvesse duas, uma degolaria a outra; mas como há trinta, vivem felizes e em paz.

Nenhum comentário: