sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Umberto Eco. O Cemitério de Praga (1).

Escritor, filósofo, linguista, historiador, semiólogo...gênio. Professor de semiótica e diretor da escola superior de ciências humanas na Universidade de Bologna. O primeiro livro que li deste senhor chama-se A Ilha do dia Anterior, que trata da resolução do problema das longitudes à época dos descobrimentos. Fabuloso. Depois li o genial O Nome da Rosa. Indescritível. Li ainda alguns contos. Indico a todos a leitura deste escritor. Estou iniciando agora mais um: O Cemitério de Praga. Para um gostinho. Escrito na margem da capa sobre a obra: "Ao longo de todo o séc. XIX, entre Turim, Palermo e Paris, encontramos uma satanista histérica, um abade que morre duas vezes, alguns cadáveres no esgoto parisiense, um garibaldino que se chamava Ippolito Nievo, desaparecido no mar nas proximidades de Stromboli, o falso bordereau de Dreyfus para a embaixada alemã, a disseminação gradual da falsificação conhecida como protocolo de Sião (que serviria de inspiração a Hitler para os campos de concentração)..." Começarei amanhã a ler.
Mas, para dar água na boca a vocês, transcreverei uma pequena passagem de profundidade espantosa. Ave, Umberto Eco:
"Osman Bey é um fanático e, além disso, é judeu. Melhor manter distância dele. Eu não quero destruir os judeus, até ousaria dizer que os judeus são meus melhores aliados. Estou interessado na firmeza moral do povo russo e não desejo (ou as pessoas que pretendo agradar não desejam) que esse povo dirija suas insatisfações contra o czar. Portanto, ele precisa de um inimigo. É inútil ir procurar o inimigo, que sei eu, entre os mongóis ou entre os tártaros, como fizeram os autocratas antigamente. Para ser reconhecível e temível, o inimigo deve estar em casa ou na soleira de casa. Eis porque os judeus. Eles nos foram dados pela Divina Providência, então vamos usá-los, meu Deus, e rezemos para que haja sempre um judeu a temer e a odiar. É necessário um inimigo para dar ao povo uma esperança. Alguém já disse que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas: quem não tem princípios morais costuma se enrolar em uma bandeira, e os bastardos sempre se reportam à pureza de sua raça. A identidade nacional é o último recurso dos deserdados, Muito bem, o senso de identidade se baseia no ódio, no ódio por quem não é idêntico. É preciso cultivar o ódio como paixão civil. O inimigo é o amigo dos povos. É sempre necessário ter alguém para odiar, para sentir-se justificado na própria miséria. O ódio é a verdadeira paixão primordial. O amor, sim, é uma situação anômala. Por isso, Cristo foi morto: falava contra a natureza. Não se ama alguém por toda a vida; dessa esperança impossível nascem adultérios, matricídios, traições dos amigos... Ao contrário, porém, pode-se odiar alguém por toda a vida. Desde que esse alguém esteja sempre ali, para reacender nosso ódio. O ódio aquece o coração."
Obrigado, Eco, por esse discurso prelúdio de Hitler.

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